sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Voltei


Cheguei em casa, peguei o fone de ouvido, apaguei a luz, deitei na minha cama com o intuito de ouvir o finalzinho do jogo, é não tem jeito sou cruzeirense mesmo! O jogo acabou, está certo a vitória não veio, mas pelo menos não perdeu... troquei de emissora até achar uma música mais calma.

Deitado na minha cama, de luz apagada e com direito a trilha sonora... meus pensamentos vieram me inundar, de repente estava eu navegando em pensamentos. Isso! Me deixando levar pelas ondas das minhas reflexões, ao ponto de cair no sono.

Acordei, de repente. Com uma vontade de escrever. Depois do último texto, não escrevi mais. E por quê? E esse porquê estava me gerando uma tremenda ansiedade, vários são os motivos, mas nesse momento não quero respostas, quero apenas escrever! Quando se aprende usar a escrita como criação, descobre o fascínio das letras e também a caixinha de surpresa que temos no nosso interior... eu diria que seria a poesia que existe em cada um de nós! É a capacidade que temos de dar sentindo à vida mesmo sem sentindo algum.

Mas neste momento estava apenas recordando os últimos acontecimentos e decisões da minha vida, senti muito bem comigo. Como me senti seguro de mim, há tempos procuro me sentir assim. E quer saber? Senti medo! Estranho né... medo de sentir seguro! Que coisa! Mas é medo de quem lutou muito para chegar até aqui e agora que alcançou esse degrau está querendo se lançar ao próximo degrau, esse ainda incerto. O que me espera? Quais desafios? Quais riscos?

Quer saber não quero pensar demais, quero apenas viver. Fazer o meu melhor, estar de corpo e alma... não quero nada pela metade! Engraçado que a experiência nos faz ainda mais seletivos, buscando sempre o melhor! E como ter o melhor com metade? Quero plenitude nem que seja da realidade!

A vida é mágica! Mas só quem se permite à vida, descobre essa magia... e posso dizer que estou fascinado com os caminhos e alternativas que sempre se apresetam! A vida sempre nos dá uma segunda chance e são inumeras vezes... as oportunidades estão sempre à nossa volta mas só percebe quem não se esconde nas suas dores, remorsos e culpas... deixe o passado e viva o presente!

Reflexões de uma vida vivida intensamente, mesmo quando parecia distante. Hoje conquistei a consciência que a felicidade está nas nossas escolhas! Essas que hoje me fazem seguro! Seguro para buscar a minha felicidade mesmo quando na vida aparecem as incertezas!

Como é bom voltar a escrever!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Minha Dor



Quanto tempo me preparo para escrever sobre a minha dor, não sei se é a hora, apenas sinto que tem que ser agora... preciso logo transformar essas sensações em palavras, mesmo que as palavras não demonstrem ou descrevam realmente o que sinto. Mas preciso de alguma forma transformar a dor em inspiração, soltar no papel o que me prende ao sofrer...

Há momentos na vida que nos deixa profundas marcas apesar de toda luta para não lembrar dela, volta e meia a dor e lembrança tomam a consciência e te faz sofrer. Não quero mais sofrer por isso, quero usar meu sofrimento como ensinamento e para isso tenho que compartilhar mesmo que no decorrer dessas letras meu coração se aperte e as lágrimas retornem aos meus olhos depois de tanto tempo... Hoje percebo como cresci com tudo isso...

Momentos que nos fazem sentir profunda amargura, deixando sem ação, só tomado pelo sentimento de incapacidade e de incompreensão! De dúvidas, incertezas e ilusões... a busca por justificativas e respostas...
Uma noite que prometia muita alegria, envolto pelo espírito de comunhão entre pai e filho, momento aguardado com ansiedade. Momento de compartilhar uma paixão hereditária... uma paixão que aprendi pela paixão do meu pai.
Tudo acontecia naturalmente e se desenhava como mais uma história boa para se contar! Mas de repente a noite se tornou trágica... a descoberta que a vida é frágil, nem nossos heróis estão livres da lei da vida.
Ver uma pessoa amada desmaiada na sua frente, uma pessoa que sempre foi forte e saudável... E de repente alí caída a sua frente, sem dar resposta alguma, por mais que você chamasse e agitasse e ela ali imóvel... A inocência de acreditar que aquilo era apenas uma brincadeira... mas a brincandeira não chegava ao fim...
Quando surge seus parentes e vizinhos gritando e você não entende nada! A ficha ainda não tinha caído e não conseguia entender o que se passava... As pessoas colocam o seu pai no carro e saem correndo e você fica ali em pé no mesmo lugar vendo o carro ir, ainda perplexo e atônico. Ainda sem entender o que estava passando naquele momento... Esperando explicações... esperava sim explicações, mas já não conseguia pensar nas perguntas a serem respondidas! só aumentava o meu sentimento de incapacidade. Afinal ele estava na minha frente, fui o primeiro a estar com ele mas não fiz nada que pudesse ajudar.
Esse momento está cristalino em minha memória, assim com esse sentimento de incapacidade de quem queria fazer alguam coisa, mas não fez nada! Como a culpa me consome e me maltrata! Como se eu tivesse condições de fazer alguma coisa, só sei que eu tinha que fazer.
Tudo que eu queria era vê-lo abrir os olhos! Por um momento acreditei que ia conseguir, quando gritei o seu nome, ele abriu os olhos, mas logo voltou a fechá-los para meu desespero! Vendo que a situação era mais grave, eu fiquei desesperado, achando que tudo foi culpa minha, que por minha causa tudo aquilo estava acontecendo...
Pela primeira vez me senti realmente desesperado e perdido, não sabia o que fazer, o que dizer... só me restava aquela imagem! Que insiste passar e repassar numa sequência angustiante e incessante... tormento que insistia em me fazer refém...
Aquele momento me entorpeceu, me fez criar um refúgio para escapar da minha tristeza e desespero, aquela noite não teve fim! Meu coração experimentou uma tristeza sem tamanho. Queria acordar daquele pesadelo, mas como arcordar da realidade? E a minha mente foi invadida por perguntas e questões intermináveis de como ia ser a minha vida e da minha família.
Naquele momento me faltou fé e me sobrou desespero. Tinha apenas 11 anos e uma vida inteira para aprender. De repente tive que aprender sem querer...
Dias se passavam até a volta do meu pai para a casa, meu coração se encheu de esperança e eu acreditava profundamente, com toda a força do meu espírito, que ele ia superar tudo. Ele sempre superou todas as adversidades.
Com a força de vontade e o amor ele me mostrou o quanto sou integrante dessa família que tanto me orgulho, o quanto devemos lutar pelas pessoas que amamos... e juntos fomos atrás da sua recuperação mesmo com a descoberta do câncer... não abalou nossa fé e esperança... procuramos todas as formas de tratamento e tivemos sempre juntos. Dois anos se passaram de luta até o adeus.
Não esqueço o meu primeiro contato com a morte. No dia 17 de Janeiro de 1995 fui acordado para receber a pior notícia da minha vida, meu herói não tinha resistido e partiu... e naquele momento me trouxe um vazio imenso e uma tristeza profunda. Dias intermináveis se passavam e eu me tranquei nas minhas angústias e incertezas, não tinha mais vontade de viver ou melhor fiquei com medo da vida e principalmente do amor... Não tem dor pior do que perder as pessoas que amamos.
Não queria perder mais ninguém e só não perde quem não tem... me fechei por completo, tentando viver indiferente à vida ou melhor apenas tentando sobreviver. No fundo eu não queria aceitar, aquilo não poderia estar acontecendo comigo, só poderia ser um pesadelo sem fim, me perdia nos meus devaneios e sonhos acordados para me entorpercer... Lágrimas e soluços escondidos afinal eu não poderia mostrar a minha dor... eu tinha que ser forte... mas como ser forte quando estamos sem chão?
Mas no fundo da minha alma as emoções me corroiam e me prendiam no cativeiro da dor, e cada dia essa dor aumentava com a saudade e se tornava um fardo pesado na minha existência. Mas eu não podia dividir, ninguém tem que levar um fardo que é meu, minha dor, minha cruz...
Dias que eu não queria levantar da cama, não havia lugar para entusiasmo... eu queria ficar só e no meu canto, eu e minha dor dividindo o mesmo espaço, me envolvendo e me fazendo sentir péssimo e incapaz.
Foi uma época de desilusão total, desacreditei nas pessoas e na vida, mas aprendi o valor dos verdadeiros amigos e da família porque senão fossem por eles, eu já teria desistido de viver... teria perdido a minha fé completamente...
Quando estamos numa situação difícil o que realmente nos vale é o apoio e a companhia, nessas horas você vê quem realmente gosta de você e são essas pessoas que guardo no coração e serei totalmente leal por toda a minha vida. Porém tive muita decepção... eu e minha famíla tinhamos muitos amigos, mas quando precisei poucos apareceram e eu esperava por todos! Além de alguns ainda aproveitarem da situação que a minha família se encontrava... carrego até hoje a desconfiança nas pessoas.
Temos cicatrizes e marcas que não nos deixa esquecer e quanta coisa ainda carrego, não é fácil abrir o coração, ainda mais quando tudo isso ainda dói, mas é necessário expor a dor para ela deixar aquele cantinho secreto e ser apenas uma fase que passou...
Não temos como evitar a vida, temos apenas que viver... As pessoas sempre nos marcam e a marca do meu pai estará presente eternamente assim como o meu amor por ele. Ele foi fundamental na minha vida, apesar do pouco tempo de convivência... para dizer a verdade a sua intensidade e o seu amor por mim é que me permitiram ser o que sou.
Com o amor dele aprendi muito. Com o seu exemplo me mostrou valores e princípios que me guiaram e acompanharam na minha maior tempestade até então e também o meu crescimento. Família, amor, trabalho, dignidade, respeito, alegria, sinceridade e presistência são alguns príncipios que tive o privilégio de receber e espero passar às pessoas que eu amo.
Aprendi com tudo que me aconteceu o significado do verdadeiro amor! O amor verdadeiro vence qualquer barreira: espaço, distância, diferenças... nem a morte é capaz de desfazer estes laços e sentimentos. A saudade apenas confirma o que a falta evidência! Momentos eternizados em um coração puro, que se orgulha da sua origem e dos seus.
Meu pai, meu herói... com seus valores contruí meu alicerce, e o amor que tenho guia meu coração e minha vida. Com trabalho e persistência transformo a minha vida e das pessoas que amo. Na família encontro apoio e carinho e com respeito, dignidiade e sinceridade pauto o meu valor!
Agradeço sempre a Deus por ter tido um pai presente, amoroso, exigente e digno. Uma pessoa de fibra e de caráter com quem aprendi muito, quem eu amo e me ama como todo amor que tinha. Engraçado como Deus age... muitos anos me perguntei o porquê de ter tirado o meu pai, se era porquê eu era péssima pessoa ou tinha feito algo de errado. Porém nesses anos que se passaram eu vivi experiências, conheci muitos tipos de pais que me mostraram que eu era privilegiado de ter um pai como o meu. Então Deus não me puniu e sim me abençou...
Sempre me apoiou em tudo... bastava eu colocar na cabeça algo e logo estava ele do meu lado, me incentivando. Sempre mostrando que eu posso, bastava querer e ir atrás do meu desejo, nunca me disse para desistir apesar de sempre me alertar para deixar meus pés no chão.
Como ele dizia quando escolhemos um caminho, temos de ir até o fim... vencer os obstáculos e os limites sem deixar a peteca cair... tudo tem que ser feito com carinho desde levantar à tomar uma decisão. Hoje vejo como era bom ouvir ele me chamar: Vem cá, filhão!
Descobri o valor de um olhar... quando me olhava reprovando era pior do que castigo, mas quando me olhava com aprovação e carinho me sentia confiante. Realmente um gesto ou melhor um olhar fala mais do que mil palavras...
Sempre fomos próximos e como eu gostaria que ele estivesse presente nas minhas vitórias e derrotas, nas minhas alegrias e tristezas, nas minhas certezas e incertezas... Engraçado que sempre o sinto presente, ou melhor sei que está presente no meu coração!
PAI TE AMO! Como eu gostaria de ter dito mais uma vez...

domingo, 2 de agosto de 2009

Receita para Mal de Amor (Rubem Braga)



Arrumando as minhas coisas encontrei esse texto entre vários outros da matéria Português I... a linguagem do Rubem Braga mostra como a gente tem mania de sempre procurar comos, meios para solucionar os problemas, detalhe tudo pra ontem... e nem sempre é pra ontem, é necessário tempo, é necessário sentir, é necessário elaborar... PRECISAMOS DE TEMPO!

Receita para Mal de Amor
(Rubem Braga)

Minha querida amiga:

Sim, é para você mesma que estou escrevendo - você que aquela noite disse que estava com vontade de me pedir conselhos, mas tinha vergonha e achava que não valia a pena, e acabou me formulando uma pergunta ingênua:
-Como é que a gente faz para esquecer uma pessoa?
E logo depois me pediu que não pensasse nisso e esquecesse a pergunta, dizendo que achava que tinha bebido um ou dois uísques a mais..
Sei como você está sofrendo, e prefiro lhe responder assim pelas páginas de uma revista - fazendo de conta que me dirijo a um destinatário suposto.
Destinatário, destinatária...Bonita palavra: não devia querer dizer apenas aquele ou aquela a quem se destina uma carta, devia querer dizer também a pessoa que é dona do destino da gente. Joana é minha destinatária. Meu destino está em suas mãos; a ela se destinam meus pensamentos, minha lembranças, o que sinto e o que sou: todo este complexo mais ou menos melancólico e todavia tão veemente de coisas que eu nasci e me tornei.
Se me derem para encher uma fórmula impressa ou uma ficha de hotel eu poderei escrever assim: Procedência - São Paulo; Destino - Joana. Pois é somente para ela que eu marcho. No táxi, no bonde, no avião, na rua, não interessa a direção em que me movo, meu destino é Joana. Que importa saber que jamais chegarei ao meu destino?
Isso eu gostaria de lhe dizer, minha amiga, com a autoridade triste do mais vivido e mais sofrido: amar é um ato de paciência e de humildade; é uma longa devoção. Você me responderá que não é nada disso; que você já chegou ao seu destinatário e foi devolvida como se fosse uma carta com o endereço errado. Que teve alguns dias, algumas horas de felicidade, e por isso agora sofre de maneira insuportável. Então lhe aconselho a comprar um canivete bem amolado e afinar dezoito pedacinhos de pau até ficarem bem pontudos, bem lisos, perfeitamente torneados - e depois deixá-los a um canto. Apanhar uma folha de papel tamanho ofício e enchê-la com o nome de seu amado, escrevendo uma letra bem bonita, de preferência com tinta azul. Em seguida faça com essa folha um aviãozinho, e o jogue pela pela janela. Observe o vôo e a aterrizagem. Depois desça, vá lá fora, apanhe o avião de papel, desdobre a folha novamente (pode passá-la a ferro, para o serviço ficar mais perfeito e não haver mais nenhum indício da construção aeronáutica) e volte a dobrá-la, desta vez ao meio. Dobre outras vezes, até obter o menor retângulo possível. Então, com o canivete, vá cortando as partes dobradas até transformar toda a folha em minúsculos papeizinhos, tão pequenos que o nome de seu amado não deve caber inteiro em nenhum deles. Aí, apanhe todos aqueles pauzinhos que tinha deixado a um canto e, com os pedacinhos de papel, faça uma fogueira com o máximo cuidado até que restem somente cinzas. A seguir poderá repetir a operação...
-Adianta alguma coisa?
Por favor, querida amiga, não me faça esta pergunta. Nada adianta coisa alguma, a não ser o tempo; e fazer fogueirinhas é um meio tão bom quanto qualquer outro de passar o tempo.